Autenticidade: A vida é muito curta para se preocupar com o que o outro está pensando! - Terapeuta de Casal
×

Autenticidade: A vida é muito curta para se preocupar com o que o outro está pensando!

Autenticidade: A vida é muito curta para se preocupar com o que o outro está pensando!

por Débora Paschoal Lambiasi - CRP 06/12227-1

"Esperei o dia todo pelo meu marido, me arrumei, fiz uma janta maravilhosa e, quando chegou do trabalho, ele simplesmente me deu um oi e foi direto para o banho! Tanto trabalho para agradá-lo e ele não me dá atenção! O que eu fiz de errado? Por que ele não gosta de mim?"  

"Trabalhei duro o dia todo, peguei metrô lotado e o que eu mais queria era chegar em casa e tomar um bom banho. Quando chego minha esposa mal me fala oi e já começa a me criticar! Não consigo agradá-la de jeito nenhum! O que fiz de errado para ela não gostar de mim?"  

Esse é um texto fictício, mas que representa muitos casais que aparecem no meu consultório. A busca pela aprovação do outro a qualquer custo e a dificuldade na comunicação causam desentendimentos e brigas que poderiam ser evitados se as pessoas se aceitassem e entendessem que o outro pode ser diferente, pensar de uma forma diferente e mesmo assim aceitar e mesmo gostar de quem você realmente é quando não está tentando apenas agradar.  

Autenticidade é definida como "genuinidade e fidelidade à verdade", ou seja, para que uma pessoa seja autêntica, ela deve entender e agir de acordo com sua própria personalidade, valores e visão de mundo. Se pararmos para pensar racionalmente, é o que todo mundo deveria fazer, não? Mas a verdade é que isso é muito raro. A grande maioria das pessoas busca desesperadamente ser aceito e se adequar à uma sociedade que exige demais com base em padrões totalmente disfuncionais.   

Essa tentativa de agradar já começa nos nossos primeiros suspiros. O ser humano precisa do outro para sobreviver, para poder se alimentar e se proteger nos primeiros anos de vida, para aprender a conviver em sociedade, para se sentir confiante, aceito e amado. E o ser humano precisa de tudo isso para conseguir se desenvolver, trabalhar, se sustentar e, muito importante, se relacionar.   

E como um bebê consegue o que precisa para sobreviver? Ele se manifesta através do choro, mas também vai aprendendo a "ser fofinho" para que queiram lhe dar comida, colo, proteção. O ser humano aprende instintivamente a fazer gracinhas que agradam os adultos com quem convive. E ao longo da vida aprendemos a importância de se sentir aceito, adequado, parte do grupo e, principalmente, amado. E é muito comum que algumas distorções cognitivas aconteçam pelo caminho.   

Para entender um pouco melhor, gostaria de trazer alguns conceitos da terapia cognitivo-comportamental (TCC), uma das abordagens mais eficazes para lidar com uma variedade de questões emocionais e comportamentais, exploramos os mecanismos internos da mente. Três conceitos cruciais se destacam nesse processo: 

 

1. Crenças Centrais: São as convicções fundamentais que temos sobre nós mesmos, os outros e o mundo ao nosso redor. Elas moldam nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos, servindo como uma espécie de lente através da qual interpretamos a realidade. 

 

2. Pensamentos Automáticos: Estes são os pensamentos espontâneos e instantâneos que surgem em resposta a situações específicas. Muitas vezes, não estamos plenamente conscientes deles. Podem ser positivos, impulsionando-nos para a frente, ou negativos, desencadeando uma cascata de emoções desafiadoras. 

 

3. Distorções Cognitivas: São os desvios da realidade que nossa mente frequentemente comete. Essas distorções, como o pensamento catastrófico ou a generalização excessiva, podem levar a interpretações distorcidas da realidade e a respostas emocionais desproporcionais. 

 

Na prática da TCC, trabalhamos para identificar essas engrenagens internas, desafiando crenças limitantes, reestruturando pensamentos automáticos disfuncionais e corrigindo distorções cognitivas. Ao fazê-lo, capacitamos os indivíduos a desenvolver uma perspectiva mais realista e adaptativa, promovendo assim uma melhor saúde mental e bem-estar emocional. 

Levando isso em consideração, vamos voltar ao exemplo que eu trouxe no início do artigo. A esposa provavelmente tem algumas crenças centrais que levam a pensamentos automáticos como: "Se eu não estiver bonita o suficiente, meu marido não vai me querer"; "preciso agradar meu marido a qualquer custo para ser boa o suficiente"; ou mesmo "o que eu tenho de tão errado que, mesmo me esforçando ao máximo, as pessoas não gostam de mim?" 

E o marido poderia ter pensamentos automáticos como "faço de tudo para ser um marido exemplar e não consigo agradar"; "não sou valorizado por tudo que faço e as mulheres não conseguem entender isso"; ou mesmo "as mulheres são todas iguais, só querem usar o meu dinheiro".   

Também é possível que o casal em questão tenha vindo de famílias com estilos completamente diferentes, que levam a expectativas totalmente diferentes. Então a esposa tenta agradar da maneira que aprendeu que deveria agradar seu companheiro, criando expectativas baseadas em sua crença e o mesmo acontece com seu companheiro. A confusão está formada!  

Mas como organizar tudo isso?  

O primeiro passo é você parar para se conhecer, saber quem você é, o que gosta, aonde quer chegar, independentemente do que pode ser esperado de você. Pode parecer algo fácil, mas é algo que poucas pessoas param para pensar. Então se pergunte: se você não precisasse ser aceito, quem você seria? o que você faria? com quem você se relacionaria? Por que seria bom se relacionar com alguém como você? quais valores são importantes para você? o que é essencial em um  

Relacionamento? o que você não aceitaria de jeito nenhum? 

Olhe para suas qualidades, pense nos seus pontos de melhoria, o que gostaria de mudar e como pode começar a fazer isso agora.  

E se você está em um relacionamento, olhe para essa pessoa sabendo que ela não é igual a você em valores, pensamentos, crenças e expectavas e que está tudo bem, ninguém é igual a ninguém. Lembre-se disso, esteja aberto para o diferente, mas se pergunte se realmente é essa pessoa que você quer para se relacionar, conversem sobre isso e lembre-se que, claro que é muito importante buscar melhorar sempre, ser empático, fazer pelo outro, mas tudo precisa de um equilíbrio e sempre vão ter pessoas que não vão gostar de você, mas também terão muitas que vão te amar do jeito que você é. Mas para isso acontecer tem uma pessoa principal que é muito importante que te aceite, te conheça e te ame do jeitinho que você é: você mesmo! 

Débora Paschoal Lambiasi

Ajudo adultos e casais a lidar melhor com seus pensamentos e emoções e se relacionar de uma forma mais plena e feliz.

Psicóloga clínica, atuando desde 2017 no atendimento psicoterápico individual e de casais com foco em terapia cognitivo-comportamental, terapia comportamental-dialética e terapia do esquema, atualmente atuando em atendimentos online individuais e de casal.