Casais Binacionais: Encontros e Desencontros de um casal e duas culturas - Terapeuta de Casal
×

Casais Binacionais: Encontros e Desencontros de um casal e duas culturas

Casais Binacionais: Encontros e Desencontros de um casal e duas culturas

por Doriane Trevas Demuth

Os Casais Binacionais, caracterizados pelo envolvimento amoroso entre pessoas de nacionalidades diferentes, representam uma realidade cada vez mais comum na sociedade contemporânea. Eles também podem ser conhecidos como Casais Interculturais, contudo estes abrangem casais de culturas regionais distintas e não necessariamente de outro país.

Esses relacionamentos binacionais são enriquecedores e desafiadores, pois demandam intensamente uma integração não apenas emocional, mas também cultural, enfrentando uma gama de questões que vão desde a criação dos filhos até as finanças e o conceito de família, visto que a diferença cultural pode ser bem acentuada. Como se colocasse uma lupa no universo de desafios que geralmente os casais do mesmo país já enfrentam. A obra "Amores Internacionais", da autora Liliana Bäckert, oferece um olhar perspicaz sobre esses desafios, destacando pontos de conflitos comuns. Vamos juntas refletir sobre alguns deles:

 

1. Criação dos Filhos

A criação dos filhos em casais binacionais frequentemente envolve uma mescla de culturas e tradições. Os pais podem divergir em questões como disciplina, educação e valores culturais. Enquanto um pode preferir uma abordagem mais autoritária, o outro pode ser mais permissivo, refletindo as diferenças nas culturas de origem.

 

2. Conceito de Família

O conceito de família varia significativamente entre as culturas, o que pode gerar tensões em casais binacionais. Enquanto em algumas culturas a família é mais extensa e tem um papel central na vida cotidiana, em outras é mais nuclear e individualista.

 

3. Finanças

As questões financeiras são uma fonte comum de conflito em qualquer relacionamento, e isso não é diferente para os casais binacionais. Diferenças nos padrões de gastos, perspectivas sobre economia e prioridades financeiras podem causar atrito.

 

4. Organização da Casa

A organização da casa pode ser uma fonte de conflito, especialmente se as expectativas sobre limpeza, arrumação e divisão de tarefas entre os parceiros.  Sabemos que esta questão também é vista nos casais do mesmo país. Porém é bom frisar que em algumas culturas, por exemplo, é mais comum que as tarefas domésticas sejam compartilhadas de forma igualitária, enquanto em outras a responsabilidade recai mais sobre um dos cônjuges.

 

5. Personalidade Introvertida e Extrovertida

Diferenças de personalidade, como ser introvertido ou extrovertido, podem influenciar a dinâmica do relacionamento, especialmente em casais binacionais. Enquanto um parceiro pode preferir atividades sociais e interações frequentes, o outro pode buscar mais tempo sozinho e momentos de introspecção. Isto pode ser observado em culturas mais individualistas, onde as pessoas tendem a ser mais reservadas e as culturas mais coletivas, aqui existe uma tendência à extroversão. Porém como cada um é um fator que não pode ser esquecido.

 

6. Contato Físico

As diferenças culturais em relação ao contato físico podem gerar incompreensão em casais binacionais. Enquanto em algumas culturas o contato físico, como abraços e beijos, é comum e demonstra afeto, em outras ele é mais reservado e pode ser interpretado de forma diferente.

 

7. Questões Raciais

Em casais binacionais, questões raciais podem surgir devido a diferenças culturais e percepções sociais. O preconceito e a discriminação racial podem afetar o relacionamento, seja de forma sutil ou explícita, nao necessariamente oriundos do parceiro ou parceira, mas das pessoas em torno do casal.

 

8. Idioma

O idioma é um ponto crucial em casais binacionais, especialmente se os parceiros não compartilham uma língua materna. A comunicação pode ser dificultada pela barreira do idioma, o que pode gerar frustração e mal-entendidos.

 

Os casais binacionais enfrentam uma série de adversidades, além das dificuldades que os casais com a mesma nacionalidade já encaram, que exigem flexibilidade, diálogo e compromisso mútuo. Ao reconhecer e respeitar as diferenças culturais, valores e necessidades individuais, tais casais podem construir relacionamentos fortes e harmoniosos, enriquecidos pela diversidade, pelo sentimento e desejo de uma relação saudável.

Lembrando que tais desafios, exceto o idioma, também podem atravessar os casais da mesma nacionalidade que também apresentam diferentes aspectos pessoais, de etnia, familiares, culturais, sociais, assim como os contrastes regionais, como por exemplo um relacionamento de uma pessoa do nordeste com uma do sul do Brasil.

A união de casais de diferentes nacionalidades pode proporcionar valiosos aprendizados e reflexões sobre a riqueza e os desafios do relacionamento amoroso entre dois mundos distintos. Destaco aqui a aceitação do diferente de nós, apesar disso que fala neste momento a mesma língua: o desejo de "superar" os contratempos e viver o que sentem um pelo outro independente das fronteiras. E além de trabalhar com os cônjuges tais pontos de confronto acima mencionados, um bom terapeuta de casal pode auxiliar estes casais a caminharem juntos em direção a uma relação saudável onde a adversidade não é uma intrusa, mas sobretudo, que favorece o desenvolvimento e é muito bem vinda.

 

Referências bibliográficas

Bäckert, Liliana: "Amores Internacionais: casei com um estrangeiro, e agora?"

Schreiner, Karin: Um casal – duas culturas: assim é o amor num mundo globalizado" ("Ein Paar - zwei Kulturen: So gelingt Liebe in einer globalisierten Welt" )

Romano, Dugan:  Casamento Intercultural: Promessas e Armadilhas ( "Intercultural Marriage: Promises and Pitfalls")

Alupoaicei, Marla: Seu casamento intercultural: um guia para um relacionamento saudável e feliz ( "Your Intercultural Marriage: A Guide to a Healthy, Happy Relationship" )

*Dica de filme: A Massai Branca (2005)

Doriane Trevas Demuth

Eu sou a Doriane, mais conhecida como Dori, graduada em Psicologia pela UFAL, residente e registrada na Alemanha desde 2012, com graduação reconhecida pela Associação de Psicólogas e Psicólogos da Alemanha.

Especialista em Psicologia Analítica, fundadora do projeto Alma Junguiana, focado em psicoterapia, estudos e supervisão para terapeutas junguianos, ampliando para terapia de casal, especialmente entre casais de diferentes culturas.

Acredito na terapia de casal como ferramenta importante para fortalecer relacionamentos e enfrentar conflitos de forma construtiva e saudável. Assim, tenho comigo o compromisso em acompanhar os casais nesse processo.