Dia Internacional da Mulher – Motivações para as mudanças

por Karina Loureiro - CRP 05/48179

No dia 8 de março comemoramos o Dia Internacional das Mulheres e gostaria de através desse texto deixar registrada uma homenagem a todas as mulheres.

Honro a história de mulheres que vieram antes de mim e reflito sobre as motivações atuais para futuras mudanças.

Quando olhamos a linha do tempo das principais conquistas destacamos que em:

• 1827 – Meninas são liberadas para frequentarem a escola - Foi apenas em 1827, a partir da Lei Geral – promulgada em 15 de outubro –  que mulheres foram autorizadas a ingressar nos colégios e estudassem além da escola primária.
• 1832 – A obra "Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens" é publicada - A autora Nísia Floresta foi a primeira mulher brasileira a denunciar em uma publicação o mito da superioridade do homem e de defender as mulheres como pessoas inteligentes e merecedoras de respeito igualitário.
• 1879 – Mulheres conquistam o direito ao acesso às faculdades - Somente em 1879 é que as portas das universidades foram abertas à presença feminina.
• 1910 – O primeiro partido político feminino é criado – Nasceu o Partido Republicano Feminino, como ferramenta de defesa do direito ao voto e emancipação das mulheres na sociedade.
• 1932 – Mulheres conquistam o direito ao voto - Essa conquista só foi possível após a organização de movimentos feministas no início do século XX, que atuaram intensa e exaustivamente no movimento sufragista, influenciados, sobretudo, pela luta das mulheres nos EUA e na Europa por direitos políticos.
• 1962 – É criado o Estatuto da Mulher Casada – Permitiu que mulheres casadas não precisassem mais de autorização do marido para trabalhar. Passariam a ter direito à herança e a chance de pedir a guarda dos filhos em caso de separação.
• 1974 – Mulheres conquistam o direito de portarem um cartão de crédito – Foi aprovada a "Lei de igualdade de oportunidade de crédito", para que clientes não fossem mais discriminados baseados no gênero ou no estado civil.
• 1977 – A Lei do Divórcio é aprovada – Apesar de não permanecerem legalmente presas ao casamento, é importante ressaltar que anos depois as mulheres divorciadas ainda eram vistas com maus olhos pela sociedade.
• 1979 – Mulheres garantem o direito à prática do futebol – Porém somente em 1983 o futebol feminino foi regulamentada e até hoje sofre com poucos patrocínios.
• 1985 – É criada a primeira Delegacia da Mulher – Essas delegacias especializadas realizam ações de proteção e investigação dos crimes de violência doméstica e violência sexual contra as mulheres.
• 1988 – A Constituição Brasileira passa a reconhecer as mulheres como iguais aos homens - fomos incluídas legalmente como cidadãs com os mesmos direitos e deveres dos homens – pelo menos na Constituição.
• 2002 – "Falta da virgindade" deixa de ser motivo para anular o casamento – o Código Civil Brasileiro extinguiu o artigo que permitia que um homem solicitasse a anulação do seu casamento caso descobrisse que a esposa não era virgem antes do casamento.
• 2006 – É sancionada a Lei Maria da Penha – uma das conquistas do feminismo mais importantes para as mulheres brasileiras, a lei foi sancionada para combater a violência contra a mulher.
• 2012 – Lei Carolina Dieckmann - promoveu alterações no Código Penal Brasileiro, tipificando os chamados delitos ou crimes informáticos.
• 2015 – Lei do Feminicídio – reconheceu o feminicídio como um crime de homicídio qualificado.
• 2018 – A importunação sexual feminina passou a ser considerada crime – ainda hoje sofremos com o assédio, mas pelo menos agora temos um mecanismo legal para defender nosso direito de ir e vir.
• 2021 – É criada lei para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher - estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher ao longo das eleições e durante o exercício de direitos políticos e de funções públicas.
• 2021 – Lei que criminaliza stalking - O crime de stalking é definido como perseguição reiterada, por qualquer meio, como a internet (cyberstalking), que ameaça à integridade física e psicológica de alguém, interferindo na liberdade e na privacidade da vítima. Prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa para esse tipo de conduta.

Muito já avançamos nas conquistas das mulheres, porém ainda temos grandes motivações para continuar buscando melhorias. Para além das leis os nossos comportamentos e a cultura precisam mudar.

O primeiro deles está relacionado a não reprodução do machismo por homens e mulheres. Falas como: "Isso não é coisa de menina". "Está brava, deve ser TPM". "Já pode casar". Ou o uso de expressões como "Maria chuteira" não devem ser utilizadas em tom de deboche ou brincadeira.

A forma como dividimos as tarefas domésticas também não deve ser baseada em gênero. Segundo dados do IBGE de 2017 em todas as regiões do país as mulheres dedicam o dobro de tempo que os homens em tarefas domésticas. No Sudeste enquanto as mulheres dedicam 20,9 horas semanais, os homens só trabalham 10,8 horas.

Um outro comportamento que reforça essa cultura é a forma de educar os filhos. Quando os pais pedem para que meninas ajudem a arrumar a mesa, enquanto meninos são incentivados a saírem para brincar, ou fazem julgamentos sobre a vida, a aparência ou as escolhas de outras mulheres também reproduzem o machismo.

O machismo estimula a competição e a rivalidade entre as mulheres. Quando estamos sozinhas temos menos força do que quando estamos no coletivo.

Por isso é fundamental desenvolvermos um sentimento de sororidade. Você já ouviu essa palavra? Sabe o que ela significa?

"A sororidade, de maneira geral, diz respeito à união das mulheres. Envolve um sentimento de irmandade, empatia, solidariedade e companheirismo. É respeito e admiração ativados pela identidade de gênero. O significado de sororidade carrega a ideia de que elas ficam mais fortes quando se unem". (Zenklub.com.br)

"Não há um sinônimo perfeito para sororidade, mas as palavras que mais se aproximam são irmandade e fraternidade (entre mulheres) ". (Significados.com.br)

E como podemos praticar a sororidade?

• Sair de um lugar de rivalidade para a união.
• Referenciar e indicar o trabalho de outras mulheres.
• Não nos julgarmos.
• Tratar outras mulheres como gostaríamos de ser tratadas.
• Oferecer ajuda quando a nossa rede de ajuda está sobrecarregada.
• Investir em elogios e incentivos.

O objetivo ao escrever esse texto era ESPERANÇAR, deixar a semente de uma nova herança, uma nova possibilidade para as próximas gerações.

Como dizia Paulo Freire:

"É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!"